Geração Nem Y Nem Z

Rafael Dupim
4 min readAug 4, 2021

A juventude está mesmo a mudar o mundo?

Éeeee. Tem hora que é foda. Ainda mais com esse calor.
Confesso que com um ano sozinho dentro de casa já tive meus surtos e saí por aí, de noite, pra ver gente. Fui no lugar mais cheio possível uma vez. Me arrependi no dia seguinte. Fiquei em isolamento total por duas semanas, com medo de contaminar alguém.
Também pego a bike pra tirar a ansiedade e já me vi passando a Central, indo pra tijuca, tal era a vontade de pedalar e evitar aglomeração ao mesmo tempo.
Pra ninguém deve estar suave.
Mas vendo botafogo lotada a noite, o que me veio a cabeça não foi vontade de estar ali.
Lembrei que são lugares com a galera mais aberta, descolada, descontruída, colorida, bonita e elegante . eambrei também que esse imperativo da diversidade tem um efeito colateral autoritário de ascender uma luz de alerta alarmando contra todos que não se encaixam no perfil fora da caixa (tsc).
É uma geração com conquistas importantíssimas. Que massificou os debates dos anos sessenta e cujo ativismo de gênero, por exemplo, realmente trouxe mudanças e ensinou muito sobre comportamento pras gerações anteriores.
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Mas apesar de racionalmente eu reconhecer essas transformações, o que me vem a cabeça vendo as ruas cheias é uma percepção de que essa mesma geração tem uma certa empáfia. Acha tudo anterioror obsoleto, pré digital, careta.
As insituitções, as organizações, as tradições, as pessoas viram facilmente alvo de ataque, denúncia, exposição e cancelamenteo porque não há mesmo muito tempo a perder com dramas quando se está mudando o mundo.
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Mas muita das vezes que se pensa estar mudando o mundo pra melhor, pode ser que estejas servindo a uma máquina que te controla de maneira muito mais eficiente. As liberdades de uma geração que vê tudo anterior como desnecessário, que ataca a necessidade de escola, sala e aula, professor, filmes clássicos, literatura universal , pra ficar na minha área. A mesma geração que asssimila como conquista pedalar na "hora que quiser" sem horário pra fazer entregas e levantar um dinheiro. Que celebra os trabalhos sem contrato. Ou a mesma que comemora que agora a categoria de motoristas não vai ter mais renda suficiente pra criar filhos. Está nessas atitudes simplesmente fazendo o seviço sujo do grande capital do Vale do Silício. Essa máquina que habita o mesmo espaço da contracultura e transfomou valores em mercadorias.
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Mas evito ciriticar.
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Evito criticar não só porque as reações `a crítica podem ser odiosas. Não só porque reconheço que aprendi coisas importantes sobre a cruel heteronormatividade.
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Tenho cuidado porque apesar dessa aparencia linda e superhumanx dos que saem `as ruas, essa é uma geracão diferente da minha. Fazíamos bullying e isso era terrível mas talvez ainda herdávamos algumas coisas internas, de compromisso com o próximo, que fazia com que ninguém realmente soltasse muito a mão de ninguém. Mesmo que sujando ela antes de apertar a do colega pela pedagogia da babaquice que nos foi sendo incurtida e naturailzada nos mass media da primeira geração neoliberal.
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Mas essa geracão online, digital e com Google tem desafios muito maiores e estarrecedores.
São os que mais se suicidam. Os que mais têm depressão. Os que mais precisam ser medicados. Os que mais tempo olham pruma tela. Deram nome a fenômenos como Geração Nem Nem. Nem estuda Nem trabalha. 30 por cento não estuda, não trabalha, não vota. Por absoluta falta de sentido e crença no presente e no futuro Essa é uma geração e que boa parte dos jovens com mais acesso material, que poderia estar viajando o mundo, prefere trocar a sua vida pela de um personagem de video game e manter a troca de fraldas até os 30 anos porque apesar de saberem segurar a merda não saem de suas posições para cagar sob o riso de desamparar o personagem.
São desafios sinistros.
Por isso ,muitas vezes,mesmo sendo achincalhados evitamos confrontar. Porque vocês já são frágeis e delicados o suficiente.
E muito por isso não escutaram algo que todas as gerações costumavam dizer para as seguintes. que os pais diziam pros filhos como algo educativo. Mas que pouco a pouco uma filosofia do cuidad deturpuou enfatizando apenas como ato de abuso.
Palavras necessárias como:
VOCÊS NÃO SÃO MELHORES NEM MAIS ESPECIAIS QUE NINGUÉM
E não são mesmo.
Então pra todos que podem ficar em casa , fiquem. Pra todos que puderem conversar com pessoas diferentes mas não diferenciadas, dê atenção ao vizinho. ao velhinho `a caixa da padaria ao seu avô ou quem quer que seja. E lembre que precisamos muito dos mais velhos aqui. Que precisamos da ciência. Dos artistas. Das tradições. Da comunidade.
Ao contrário do que a propaganda diz.
O brave new world c0m que robots trabalham e os poucos escolhidos vivem a vida de desfrute do neymar. Essa não é uma utopia. Isso é a ameaça da vida.
Cuide de todxs sem esquecer de todos.

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Rafael Dupim

Professor de Jornalismo, Arte, Comunicação, Cultura e Mundo Contemporâneo/FACHA