Gordon Banks e a mais improvável das defesas em cabeçada de Pelé

Futebol, teoria dos jogos , economia e a mente brilhante.

Rafael Dupim
4 min readJan 28, 2022

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John Forbes Nash, interpretado por Russell Crowe no filme Mente Brilhante, foi um matemático que lutou contra a esquizofrenia e a favor de sua genialidade e foi reconhecido com o Nobel pela formulação da Teoria dos Jogos.

Um dos fundamentos da matemática que Nash investigara era a possibilidade de prever a ação de indivíduos. De maneira resumida , Nash lança a hipótese de haver maior probabilidade de um corpo (seja um átomo ou uma pessoa) tomar rumos ou fazer escolhas que priorizem sua sobrevivência e a do ambiente aos seu redor.

Esse princípio foi a base da política econômica de Margareth Tatcher, a Dama de ferro que forjou o neoliberalismo inglês. Thatcher ficou conhecida por acabar com os fortíssimos sindicatos da Grã Bretanha. Ilha que primeiro experimentou a revolução industrial e cujas condições de trabalho eram tão precárias que muito contribuíram para que Karl Marx escrevesse O Capital.

Nos anos de 1970, porém, antes de Thatcher assumir a liderança do império Britânico, um trabalhador de mina de carvão inglês tinha mais garantias, liberdades e benefícios sociais que qualquer trabalhador da União Soviética, o que dirá dos países subdesenvolvidos.

Mas o mundo está sempre em movimento, e Thatcher tinha, a seu modo, uma predileção especial pelo futebol. Digo a seu modo, porque a Primeira Ministra costumava dar mais atenção `as coisas que gostaria de modificar , se não, de aniquilar.

Thatcher lidera a criminalização das torcidas organizadas, sobrando apenas os já criminosos Hooligans entre os fiéis de tradicionais camisas de football.
Thatcher também promove a privatização dos clubes, a disponibilidade de ações em bolsas de valores, e há quem associe a construção dos estádios em modelo Arena, condizentes com a expectativa de se receberem , antes de tudo, visitantes e não torcedores.
O ápice desse processo de profissionalização do futebol inglês estaria,assim, na implosão de Wimbledon e na construção de uma nova arena. Justamente em Londres, uma cidade primordialmente de prédios centenários.

Durante os anos seguintes `a modernizando de Tatcher, os clubes ingleses dominam as competições européias e até hoje , seja em clubes com ações na bolsa de valores ou comprados por bilionários com interesses em transações internacionais, a Inglaterra é o que há de mais moderno no futebol espetáculo. Sua liga a mais rentável e mais transmitida ao redor do mundo.

Margaret Thatcher fez isso entendendo de maneira muito simples a Teoria dos Jogos de John Nash.

Veja bem, nos jogos, o princípio da incerteza é que que gera a emoção. Mas nos negócios em libras esterlinas, ninguém está interessado em emoções. A estabilidade da moeda, da sociedade e da hegemonia inglesas são medidas em réguas de décadas e/ou centenas de anos.

Os pequenos solavancos como os de Thatcher servem paradoxalmente para manter a estabilidade. Não dos trabalhadores e torcedores, mas dos negócios.

Se o futebol era um dos carros chefes a representar a financeirização da sociedade, ele precisaria educar os súditos e eleitores de que as cifras financeiras são o melhor tradutor do sucesso.

Futebol exige investimento. Repetimos hoje aqui no Brasil.

Brasil, para o olhar de um britânico da City, uma longínqua periferia a processar a globalização nos moldes europeus, tropeçando nos resquícios de seu próprio modelo econômico. Brasileiro cuja semelhança com os ingles é a paixão pelo futebol e um resquício de organização entre clubes e federações.

Pois bem.

“A Sociedade não existe. Só Existe o indivíduo”

Essa foi a “brilhante” sacada shakeaspereana de Lady Thatcher. Ora, se os indivíduos tomam decisões ponderando o que é bom para eles e para o entorno, faça os esquecer o entorno e mergulhar no individualismo.

Quando tivermos certeza de que todos são individualistas, os negócios fluírão perfeitamente.

Esqueça o amor `a camisa, o jogador que quer homenagear o pai, o time do coração, o coletivo, o sentimento de participar de uma geração vencedora, os grandes momentos em determinado campo.

Esqueçam tudo isso.

Quem tem mais dinheiro leva o jogador. Quem leva mais jogadores forma o melhor time. E não podemos ficar `a merce de vinte clubes disputando um campeonato. 1 ou 2 favoritos o ideal, 3 ou 4 no máximo.

E clubes latino-americanos, quando o projeto de finaceirização estiver `a pleno vapor, jamais serão melhores que clubes ingleses. Pelo simples fato de que a libra, o real e o peso jamais se equipararão.

E o Vasco, o Cruzeiro, o Botafogo, o Atlético e o Palmeiras que disputem cifras e negócios que traduzam sua posição na tabela. No ranking. A parte que lhes cabe. Nesse latifúndio.

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Rafael Dupim

Professor de Jornalismo, Arte, Comunicação, Cultura e Mundo Contemporâneo/FACHA